clue-up due abyss

emanuel dimas de melo pimenta

world première
Monte Verita . Ascona . Suíça . Abril 6 . 2014 . 17:00

piano . marco rapattoni

apresentação . lucrezia de domizio durini


         


            
Dois homens sensíveis,
dois artistas criativos,
dois grandes mestres
que na diferença
amam a Música como Vida.

Lucrezia De Domizio Durini 

Compus Clue-Up Due Abyss em 2012 e 2013. É uma peça para piano solo dedicada ao meu amigo Marco Rapattoni, um grande músico. E ela foi feita em comemoração aos 150 anos de nascimento de Claude Debussy, e para os 95 anos do seu desaparecimento.
Claude Debussy foi um compositor que sempre exerceu uma enorme influência na minha vida. Meu avô chamou minha mãe de Guiomar - nome da mitologia germânica - por causa da grande pianista brasileira Guiomar Novaes, aluna de Claude Debussy, que ele tanto admirava.
Quando eu era menino, meu pai fazia filmes como amador. Ele também espalhou alto-falantes por toda a nossa casa, de forma que podíamos ouvir música clássica em todos os lugares. Ele também ligava a saída de som de seu projetor de cinema naquela rede. Então, no final da noite, eu dormia escutando os sons dos seus filmes. Muitas vezes, ele usava peças de Debussy.
Debussy morreu poucas semanas antes do meu pai nascer.
Assim, eu nasci com Debussy e cresci com ele.
O título Clue-Up Due Abyss é um quase anagrama do nome de Claude Debussy. "Clue-up" significa algo dentro do seu zeitgeist. Algo sintonizado com o momento. Talvez pudéssemos ler o título como: "chave sintonizada do abismo". Aqui, o abismo é o tempo. Toda a estrutura desta peça pertence a uma lógica estranha à tradição da música ocidental. Mas, mesmo este fenômeno é, muitas vezes, sutil, delicado. É uma música como uma espécie de arquipélago, rodeado de silêncio. Ilhas de música, ilhas ligadas pelo silêncio. Clue-Up Due Abyss é baseado nas Images 1 e 2 para piano de Debussy.
O método de composição não foi o mundo virtual quadridimensional como tenho feito desde há muito tempo. Essencialmente, trabalhei em filtragem estocástica de frequências e eventos sonoros, criando grupos de conexões, traduções entre diferentes processamentos digitais e, desta forma, a elaboração de um princípio de ordem numa lógica não hipotática, dentro de um ambiente teleonômico.
Todas as notas estão nas Images de Debussy .
A versão integral do Clue-Up Due Abyss tem três horas. A estreia mundial no Monte Verità é de apenas 40 minutos. Originalmente, o concerto foi pensado - devido à sua duração de três horas - para ser realizado com as pessoas deitadas sobre colchões. Mas, infelizmente, isso não foi possível. Por isso, a première mundial terá apenas quarenta minutos e as pessoas estarão sentadas em cadeiras.
Todos os agradecimentos à minha querida amiga Lucrezia De Domizio Durini, com quem tenho colaborado em projetos mútuos nos últimos 25 anos, um pouco por toda parte neste pequeno planeta.
Meus sinceros agradecimentos também a Marco Rapattoni, maravilhoso músico - e ao Lorenzo Sonognini e à Claudia Lafranchi da Fundação Monte Verità.
Estar em Monte Verità para a estréia mundial de Clue-Up Due Abyss é um momento especial para mim. A primeira vez que estive no Monte Verità foi em 1987, pelas mãos do meu querido e inesquecível amigo René Berger. Então, comecei a colaborar com ele, com o brilhante Rinaldo Bianda e também com Lorenzo Bianda, fotógrafo maravilhoso, para os Festivais de Vídeo Arte e Arte Eletrônica, os primeiros do mundo. Nesse formidável movimento também estavam Nan June Paik, Francis Ford Coppola, Edgar Morin, Bill Viola, Daniel Charles e muitos mais. Esta colaboração terminou em 1996. Naquele ano , recebi a informação de que meu pai estava gravemente doente no hospital no meio de uma conferência que eu estava dando no Monte Verità. Meu pai morreu poucos dias depois. Infelizmente, os festivais terminaram alguns anos mais tarde. Em 2005, fiz outra estreia mundial em Monte Verità: Quinze Pedras, concerto para piano e computador, para celebrar os noventa anos de René Berger.
O Monte Verità também me faz lembrar outro amigo, Harald Szeemann, grande amigo de Lucrezia De Domizio Durini que nos apresentou nos anos 1990. Szeemann foi um descobridor do Monte Verità. Compús o Réquiem para ele em 2005.
Agora, é um outro mundo. Tudo mudou no nosso pequeno planeta. E continua mudando.
O que faz lembrar John Cage quando ele dizia: "Todas as coisas são um eco do nada".

Emanuel Dimas de Melo Pimenta . 2014
 

 

 

 

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